PEDS-VIC (Pediatric Scale for Vomiting Risk After Intrathecal Chemotherapy): elaboração e acurácia da escala

Abstract

INTRODUÇÃO: vômitos são eventos adversos que continuam a afetar as crianças com câncer durante o tratamento, apesar das estratégias existentes de profilaxia. A literatura acerca da incidência de vômitos e os fatores de risco envolvidos nesta população é insuficiente. OBJETIVO: Elaboração e avaliação da acurácia de uma escala para estratificar o risco de vômitos pós-operatórios (VPO) em pacientes pediátricos com câncer submetidos à quimioterapia intratecal. MÉTODO: elaboração de um produto técnico, a escala PEDS-VIC (Pediatric Scale for Vomiting risk after Intratecal Chemotherapy) baseada em estudo de coorte no período de abril de 2020 a outubro 2021 desenvolvido no mesmo serviço. Para verificação da acurácia da escala, foi realizada nova coorte visando o aumento do tamanho da amostra. Foram incluídos pacientes com câncer hematológico com idade inferior a 19 anos submetidos à anestesia geral para realização de quimioterapia (QT) intratecal no Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira - IMIP, entre abril e julho de 2023. O desfecho estudado foi a presença de vômitos nas primeiras 24 horas após o procedimento. Foi observada a incidência de vômitos de acordo com a pontuação na escala, determinada a acurácia e estabelecida a curva de risco acumulado. RESULTADOS: participaram do estudo 236 crianças oriundas de duas coortes nos dois períodos. A média de idade foi 7,7 anos, 63,1% do gênero masculino, 88,6% com diagnóstico de Leucemia Linfoide Aguda, 62,3% apresentaram histórico de vômitos induzidos por quimioterapia e 26,7% de cinetose. A ondansetrona foi utilizada como fármaco profilático em 54,7% dos casos e a duração da anestesia foi em média 4,4 minutos. As medicações utilizadas para anestesiar as crianças foram propofol (97%), lidocaína (49,6%) e escetamina (17,4%). A incidência de vômitos nas 24 horas após QT intratecal foi 33,9%, 28,0% considerados precoces e 5,9%, tardios. A escala PEDS-VIC, tem como base três fatores de risco (gênero feminino, cinetose prévia e fase de consolidação da quimioterapia) e a pontuação para cada paciente pode variar de 0 a 3 de acordo com a presença de cada um dos fatores com mesmo peso. Pacientes com 0 e 1 de pontuação apresentaram 17,0% e 49,0% de vômitos respectivamente; na presença de dois fatores de risco 59,5% vomitaram e a criança com pontuação igual a três apresentou vômitos. Os cálculos do HR (HR 2,61; IC95% 1,47 –4,65) para a PEDS-VIC igual a 1 e com dois ou mais fatores (HR 4,61; IC95% 2,42 – 8,78) apresentaram diferença estatisticamente significativa quando comparados com pacientes sem fator de risco. As curvas de risco acumulado de acordo com a pontuação obtida apresentaram diferença estatisticamente significativa. Essa escala possui área sob a curva ROC de 0,68, sensibilidade de 80%, especificidade de 50%, valor preditivo positivo de 45%, valor preditivo negativo de 83%. CONCLUSÃO: a escala PEDS-VIC proposta com as variáveis gênero feminino, histórico positivo de cinetose e fase de consolidação do tratamento apresentou uma acurácia aceitável para a previsão da ocorrência de VPO em crianças com câncer submetidas à terapia tripla intratecal.