Impacto da pandemia de Covid-19 no diagnóstico e no trata-mento do câncer de mama em usuárias do sus no estado da Para-íba: estudo de coorte

Abstract

Cenário: câncer de mama é o mais incidente no sexo feminino e a segunda causa mais frequente de morte por câncer em mulheres. A melhor estratégia para a redução da mortalidade pela doença encontra-se na detecção precoce, aliada ao tratamento em estágios iniciais. A pandemia de COVID-19 impôs medidas restritivas para conter a disseminação do vírus. A partir daí, o rastreamento do câncer foi suspenso em vários países e apenas os casos sintomáticos e urgentes foram priorizados para diagnóstico e tratamento. Objetivos: descrever o impacto da pandemia de COVID-19 no diagnóstico e no tratamento do câncer de mama, nas usuárias do SUS no estado da Paraíba, comparando o Período Pré-Pandemia (PPP) e o período da pandemia (PP). Métodos: foi realizado um estudo do tipo coorte, retrospectivo no Hospital Napoleão Laureano, que atende 72% dos casos de câncer da Paraíba. Foram analisados os prontuários de 218 mulheres atendidas nesse hospital com diagnóstico de câncer de mama (CID 10: C50 e D05), sendo 114 mulheres cujo tratamento ocorreu no período de 12 meses na pré-pandemia (novembro de 2017 a outubro de 2018) e sendo 104 mulheres correspondente a o período de 12 meses durante a pandemia (janeiro a dezembro de 2020). A análise estatística foi realizada com o programa estatístico Epi Info versão 3.5.4 (Atlanta, GA). Resultados: comparando o Período Pré-Pandemia (PPP) e o Período da Pandemia (PP), a mediana de idade foi semelhante, em torno de 54 anos (IIQ: 46-65). O tempo entre o exame de imagem suspeito e a confirmação do diagnóstico histopatológico pós biópsia também não apresentou diferença estatisticamente significante. Por outro lado, o tempo entre o diagnóstico histopatológico e o primeiro atendimento no ambulatório de mastologia do hospital de referência foi maior no período da pandemia, com mediana de 35 dias, em relação à mediana de 27 dias no período pré-pandemia (p=0,049). Após a admissão no hospital de referência, o tempo até o início do tratamento não demonstrou diferença entre os períodos, com a mediana de 40 dias (p=0,82). O período da pandemia também não apresentou diferença em relação ao diagnóstico de carcinoma in situ comparado ao quantitatitvo de carcinoma invasivo, assim como não houve maior indicação de mastectomia. No entanto, houve redução significativa na realização de reconstrução mamária imediata de 33,3% (PPP) para 15,6% (PP) (p= 0,009). O abandono do tratamento foi mais frequente durante a pandemia (PP 10,6% vs PPP 1,8%, p=0,006*), o número de evasão com retorno tardio, não mostrou diferença entre os grupos (PP 11,5 vs PPP 6,1%, p=0,15), mas apresentou o “medo da Pandemia” (33,3%), como a segunda causa mais relatada de evasão nesse período. Conclusão: a pandemia repercutiu negativamente sobre o diagnóstico e tratamento do câncer de mama, com maior tempo entre o diagnóstico e o primeiro atendimento especializado, maior abandono do tratamento, além do impacto psicológico devido à redução do número de reconstrução mamária imediata e o medo da pandemia como principal causa de evasão.

Scenario: Breast cancer is the most prevalent cancer in females and the second leading cause of cancer death in women. The best strategy to reduce mortality from the disease is early detection, associated with treatment in early stages. The COVID-19 pandemic has imposed restrictive measures to contain the spread of the virus. Since then, cancer screening has been suspended in several countries and only symptomatic and urgent cases were prioritized for diagnosis and treatment. Objectives: to describe the impact of the COVID-19 pandemic on the diagnosis and treatment of breast cancer in public health system (SUS) users in the state of Paraíba, Brazil, comparing Pre-Pandemic Period (PPP) to Pandemic Period (PP). Methods: a retrospective cohort study was conducted at Hospital Napoleão Laureano, which treats 72% of cancer cases in Paraíba. We analyzed the medical records of 218 women treated at this hospital with diagnosis of breast cancer (CID 10: C50 e D05), whose treatment was done during 12 pre pandemic months (November 2017 to October 2018) and 12 pandemic months (January to December 2020). Statistical analysis was performed with the statistical program Epi Info version 3.5.4 (Atlanta, GA). Results: comparing the Pre-Pandemic Period (PPP) and the Pandemic Period (PP), the median age was similar, around 54 years (IQR: 46-65). The time between the suspicious imaging test and its confirmation by histopathological diagnosis after biopsy also did not present statistically significant difference. On the other hand, the time between histopathological diagnosis and the first care at the Mastology outpatient clinic from the reference hospital was longer during the pandemic, with a median of 35 days, compared to the median of 27 days in the pre-pandemic period (p=0.049). After admission to the referral hospital, the time to start treatment showed no difference between the periods, with a median of 40 days (p=0.82). The pandemic period showed no difference among the diagnosis of carcinoma in situ, comparing to invasive carcinoma, as well as there wasn´t more mastectomy during the pandemic period. However, there was a significant reduction in the performance of immediate breast reconstruction from 33.3% (PPP) to 15.6% (PP) (p= 0.009). Treatment abandonment was more frequent during the pandemic (PP 10.6% vs PPP 1.8%, p=0.006*), the number of evasion with late return showed no difference between groups (PP 11.5 vs PPP 6.1%, p=0.15), but presented the "pandemic fear" (33.3%), as the second most reported cause of evasion in this period. Conclusion: the pandemic had a negative impact on the diagnosis and treatment of breast cancer, with longer time between diagnosis and the first specialized care, greater treatment abandonment, in addition to the psychological impact due to the reduction in the number of immediate breast reconstruction and the fear of the pandemic as the main cause of evasion.