Características clínico-epidemiológicas e tratamento do câncer de laringe no Brasil

Abstract

Introdução: O câncer é a segunda causa de morte no mundo e o câncer de cabeça e pescoço (CCP) compreende um grupo heterogêneo que inclui os de lábio, cavidade oral, nasofaringe, orofaringe, hipofaringe, laringe, glândulas salivares, seios paranasais e tireoide. O câncer de laringe (CL) corresponde de 20 a 25% dos CCP, é a segunda neoplasia maligna mais comum no trato aerodigestivo superior e tem como principais fatores de risco, o tabagismo e o consumo excessivo de álcool. A laringe desempenha um papel crucial em várias funções vitais como respiração, deglutição e fala. A adição da quimioterapia concomitante à radioterapia, no tratamento do CL, mostrou um ganho absoluto de 4,5% em sobrevida global, porém o tratamento multimodal, causa significante toxicidade aguda e morbidade, que pode reduzir a adesão ao tratamento, principalmente nos pacientes idosos por apresentarem outras comorbidades e estado funcional prejudicado. Identificar o perfil clínico-epidemiológico do CL pode propiciar diagnóstico mais precoce e tratamento mais oportuno, com melhores resultados no tratamento, na sobrevida e qualidade de vida. Objetivos: Analisar o perfil clínico-epidemiológico dos cânceres de laringe no Brasil entre 2000 e 2019 avaliando a tendência temporal e analisar as modalidades de tratamento oferecida às diferentes faixas etárias. Métodos: Estudo epidemiológico tipo corte transversal com componente analítico usando três bancos de dados disponíveis online: Integrador do Sistema de Registro Hospitalar de Câncer do Instituto Nacional de Câncer (INCA) no período de 2000 a 2017, nos Registros de Câncer de Base populacional de 2000 a 2018 e Sistema de Informação de Mortalidade de 2000 a 2019. Resultados: A taxa de incidência em homens diminuiu de 9,20/100.000 em 2000 para 4,95/100.000 em 2018, enquanto a mortalidade permaneceu estável com valores de 3,37/100.000 em 2000 para 3,30/100.000 em 2019. Nas mulheres, a incidência diminuiu de 1,26/100.000 em 2000 para 0,48/100.000 em 2018 e a taxa de mortalidade aumentou de 0,34/100.000 para 0,36/100.000 em 2019. A prevalência de câncer de laringe foi 26,1% entre 221.566 pacientes com câncer de cabeça e pescoço no período de 2000 a 2019. A mediana de idade dos pacientes foi 61 anos com 23,2% acima de 70 anos. A maioria dos pacientes era tabagista (66,2%), do sexo masculino (86,6%), diagnosticados com estadio localmente avançado (66,7%) e tendo como principal tipo histológico o carcinoma espinocelular (93,2%). Os homens tenderam a ser mais velhos (p<0,001), brancos (p<0,001), tabagistas (p<0,001), com maior tempo até iniciar o tratamento (p<0,001) e maior óbito precoce (p<0,001). Em comparação com os mais jovens, os idosos (70 anos ou mais) foram mais frequentemente diagnosticados na fase inicial (28,9% versus 39,3%; p < 0,001), embora com 15% menos probabilidade de tratamento por cirurgia (OR = 0,85 IC 95%: 0,79-0,92), 44% menos quimioterapia (OR = 0,56; 95% IC: 0,52-0,61), 33% menos probabilidade de associação de duas ou mais modalidades de tratamento oncológico (OR = 0,67; 95% IC: 0,62-0,72), 35% mais indicação de suporte oncológico exclusivo (OR = 1,35; 95% IC: 1,21-1,51) e 13% mais probabilidade de receber radioterapia (OR = 1,13: 95% IC: 1,04-1,23) em comparação com os mais jovens. Conclusão: O câncer de laringe apresentou diminuição de incidência com mortalidade estável, sendo uma doença que acomete uma faixa etária produtiva do sexo masculino, de 50 a 69 anos, em sua maioria com fator etiológico evitável como o tabagismo. Embora idosos com câncer de laringe tenham apresentado maior frequência de estadiamento precoce ao diagnóstico, houve tendência de sub-tratamento por cirurgia, quimioterapia, associação entre modalidades e uma maior indicação de suporte oncológico exclusivo, em comparação aos pacientes jovens.

Background: Cancer is the second leading cause of death in the world and is an important barrier to increasing life expectancy in all countries and, therefore, the importance of knowledge about the behavior of different types of tumors. Head and neck cancer (HNC) is composed of a heterogeneous group of cancers that include those of the lip, oral cavity, nasopharynx, oropharynx, hypopharynx, larynx, salivary glands, paranasal sinus and thyroid. Laryngeal cancer (LC) is the second most common malignant neoplasm in the upper aerodigestive tract, surpassed only by lung cancer and corresponds to 20 to 25% of tumors and head and neck (HNC) and risk factors include smoking and excessive alcohol consumption. The larynx plays a crucial role in several vital functions such as breathing, swallowing and speech. The global incidence of cancer is expected to rise among the older population due to an increase in life expectancy and continued population growth. The use of chemotherapy alongside radiotherapy in LC treatment has shown a 4.5% increase in overall survival. However, this type of multimodal treatment can cause significant acute toxicity and morbidity, which may reduce treatment adherence, particularly in older patients with other comorbidities and impaired functional status. By identifying the clinical and epidemiological profile of CL, we can diagnose it earlier and provide more timely treatment, resulting in better treatment outcomes, survival rates, and quality of life. Analyzing the oncological treatment pattern, especially in elderly patients, can help us develop better treatment practices for this population Objectives: To analyze the epidemiological- clinical profile of HNC in Brazil, between 2000 and 2019, evaluating the temporal trend and analyze the treatment modalities offered to different age groups. Methods: Cross-sectional epidemiological study with an analytical component using the database of the Integrator of the Hospital Cancer Registry System of the National Cancer Institute (INCA) between 2000 and 2017, the Population-Based Registry between 2000 a 2018 and the Mortality Information System between 2000 and 2019, available online Results: The incidence rate in men decreased from 9.20/100,000 in 2000 to 4.95/100,000 in 2018, while mortality remained stable with values from 3.37/100,000 in 2000 to 3.30/100,000 in 2019. In women, the incidence decreased from 1.26/100,000 in 2000 to 0.48/100,000 in 2018 and the mortality rate increased from 0.34/100,000 to 0.36/100,000 in 2019. The prevalence of larynx cancer was 26,05% from 221.566 patients with Head and Neck cancer from 2000 to 2019. The median age of patients was 61 years old with 23.2% over 70 years old. Most patients were smokers (66.2%), men (86.6%), diagnosed with locally advanced stage (66.7%), and squamous cell carcinoma as the main histological type (93.2%). Men tended to be older (p<0.001), white (p<0.001), smokers (p<0.001), had higher time to initiate treatment (p<0.001), and higher early death (p<0.001). Older patients were more often diagnosed at early stage (28.9% versus 39.3%; p < 0.001), albeit they were found 15% less likely to received surgery (OR = 0.85 95% IC: 0.79-0.92), 46% less chemotherapy (OR = 0.56; 95% IC: 0.52-0.61), less 33% likely of association two or more modalities of oncological treatment (OR = 0.67; 95% IC: 0.62-0.72), 35% more common in support care (OR = 1.35; 95% IC: 1.21-1.51) and 13% more likely to receive radiotherapy (OR = 1.13: 95% IC: 1.04-1.23) compared to younger ones. Conclusion: Laryngeal cancer showed a decrease in incidence with stable mortality and is a disease that affects a productive male age group, 50 to 69 years, mostly with an avoidable etiologic factor such as smoking. Although Brazilian older patients with larynx cancer had a higher frequency of early staging diagnosis, there were the trend of undertreatment by surgery, chemotherapy, association between modalities, and more use of support care as compared to young patients.