Pacientes com COVID-19 hospitalizados em unidades de terapia intensiva sob suporte ventilatório: perfil clínico/epidemiológico e fatores associados ao óbito antes e após o programa de vacinação no Brasil

Abstract

Introdução: A Coronavirus Disease - 19 (COVID-19), doença infecciosa respiratória causada pelo Coronavirus 2 da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-COV-2), tem maior mortalidade entre os pacientes críticos com síndrome respiratória aguda grave (SRAG). O perfil clínico/epidemiológico e os fatores associados ao óbito dos pacientes internados em Unidades de terapia Intensiva (UTI) precisaram ser melhor determinados no Brasil, como também, a necessidade de avaliar a mortalidade após o início da vacinação contra COVID-19. Objetivo: Analisar o perfil clínico/epidemiológico e determinar os fatores associados ao óbito em pacientes hospitalizados por COVID-19 em UTI no Brasil no início da pandemia e comparar as mudanças na epidemiologia e mortalidade antes e após os primeiros 6 meses do programa de vacinação contra SARS- CoV-2. Métodos: Estudo transversal envolvendo pacientes adultos hospitalizados em UTI com diagnóstico de COVID-19 pelo teste de reação quantitativa em cadeia de polimerase por transcriptase reversa (RT-qPCR) no Brasil. Foram utilizados dados secundários do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP- Gripe) no ano de 2020 (fase pré-vacinal) e 2021 (fase pós-vacinal). Realizou-se uma análise de dados, utilizando medidas de tendência central e dispersão para as variáveis contínuas e distribuição de frequência absoluta e relativa para as variáveis categóricas. O teste “t” de Student foi utilizado para comparar as variáveis contínuas e o qui-quadrado para as categóricas. As diferenças foram consideradas significativas quando o valor de p foi <0,05. Após análise univariada, as variáveis que exibiram valores de p <0,15 foram testadas, sequencialmente, em um modelo multivariado. Resultados: Foram produzidos dois manuscritos: O primeiro denominado “Risco de morte em pacientes com COVID- 19 gravemente enfermos submetidos a diferentes suportes respiratórios ao longo do ano de 2020 no Brasil” foi publicado na revista Respirology sob a forma de carta ao editor com o título: “Letter from Brazil em 2021”. Este estudo avaliou 116.640 pacientes internados em UTI e identificou que 49,0% de pacientes necessitaram de ventilação mecânica invasiva (VMI); a mortalidade na UTI foi 58,3%. Pacientes com COVID-19 submetidos à VMI apresentaram pior risco de morte (aOR= 10,24; IC 95% 9,76 - 10,75; p < 0,001). O segundo artigo denominado “Taxa de mortalidade e mudanças epidemiológicas em pacientes graves com a doença causada pelo coronavírus 2019 após programa de vacinação no Brasil”, foi publicado em maio de 2022, sob a forma de carta ao editor no Jornal Brasileiro de Pneumologia. Este estudo observou que comparados com os do período pré-vacinação, os pacientes hospitalizados em UTI após programa de vacinação contra a SARS-COV-2 eram mais jovens (mediana 65 vs 61 anos, p < 0,001), maior frequência de ausência de comorbidade (23,5% vs 28,8%, p < 0,001), maior necessidade de VMI (49,0% vs 56,8%, p < 0,001) e maior taxa de mortalidade na UTI (58,3% vs 66,4%, p < 0,001). Conclusões: Pacientes sob VMI, idosos, admitidos em UTIs e foram os grupos de maior risco de mortalidade, objetivando definir os grupos prioritários para ações de saúde pública. Após 6 meses do programa de vacinação, que foram priorizados profissionais de saúde, pacientes idosos e/ou com comorbidades, houve mudança do perfil clínico/epidemiológico dos pacientes admitidos em UTI para um grupo mais jovens, não-vacinados, assim como, um significativo aumento no uso de VMI e nas taxas de mortalidade.