Doença falciforme e complicações no período gravídico-puerperal em pacientes acompanhadas em um centro de hematologia no estado de pernambuco: um estudo corte transversal

Abstract

Introdução: a Doença Falciforme (DF) é a desordem hematológica genética mais comum do mundo, afetando aproximadamente 30 milhões de indivíduos e representa um importante problema de saúde pública. Durante a gestação as complicações relacionadas à DF aumentam em decorrência das próprias alterações fisiológicas que tornam o ambiente propício para o fenômeno de polimerização e por isto, a gestante portadora de DF apresenta piora dos parâmetros clínicos e maior risco de complicações obstétricas e perinatais. Objetivo: descrever o perfil das complicações clínicas, obstétricas e perinatais entre os diversos genótipos da DF. Método: Estudo de corte transversal realizado com 89 mulheres portadoras de DF e com história de gestação, acompanhadas no ambulatório de hemoglobinopatias da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE), entre os meses de setembro de 2015 e abril de 2016. Os dados foram obtidos por meio de entrevista no momento da consulta e complementados com pesquisa ao prontuário. Foram pesquisadas variáveis sociodemográficas, clínicas, reprodutivas, complicações obstétricas e os genótipos da DF. Realizou-se teste de associação entre os genótipos da DF e as complicações clínicas e obstétricas. Apenas no grupo de mulheres portadoras HbSS foi feito teste de associação entre as complicações clínicas e obstétricas e a realização do pré-natal. Resultados: A distribuição dos genótipos da DF foi: 74 (83%) com HbSS, 8 (9,0%) com HbSC e 7 (8,0%) com S-β-talassemia. A média de idade foi 31±7,4 anos. A maioria delas (59,6%) teve seu diagnóstico até os 8 anos de vida. Em relação à raça/cor, 89,9% se declarou parda ou negra. Apesar de 63,3% terem mais de 9 anos de estudo, apenas 18,0% apresentavam atividade remunerada e 61,8% tinham renda familiar mensal de até 1 salário mínimo. A média de idade da menarca foi de 14,5 ± 1,9 anos e a média da idade na primeira gestação foi de 22 ± 4,7 anos. As mulheres tiveram uma média de 1,7 gestações e tinham em média 1,2 filhos vivos. Hemotransfusão foi a complicação clínica mais frequente nas mulheres com genótipo HbSS e naquelas com S-βtalassemia quando comparados com as mulheres com genótipo HbSC (p=0,013). Crise álgica e infecções ocorreram principalmente nas HbSS (58,1% e 52,7% respectivamente), porém não houve diferença estatística entre os grupos. Entre as complicações obstétricas, baixo peso ao nascer, prematuridade, abortamento e as síndromes hipertensivas gestacionais foram as mais frequentes entre as mulheres HbSS e HbSC, sem diferença estatística entre os grupos (p=0,161; p=0,665; p=0,653; p=0,601, respectivamente). Óbito fetal 8 intraútero ocorreu apenas nas portadoras de HbSS (14,9%). Complicações puerperais ocorreram principalmente no grupo da S-βtalassemia (p=0,040). As 54 pacientes do grupo HbSS que realizaram pré-natal apresentaram menor frequência de abortamento e maior frequência de hemotransfusão durante a gestação (p=0,009) quando comparadas àquelas que não o fizeram (p=0,001). Conclusão: mulheres com HbSS tiveram maior frequência de hemotransfusão em relação à HbSC e as portadoras de S-βtalassemia, maior frequência de complicações puerperais. A realização de pré-natal adequado esteve relacionada com menor número de abortamentos e maior necessidade de hemotransfusão.