Avaliação de espiritualidade e estudantes de medicina durante vivência em serviço de cuidados paliativos

Abstract

Resumo: estudos demonstram os benefícios do envolvimento espiritual/religioso para o bem estar e manutenção da saúde. Para que esta prática seja incluída aos estudantes ainda na graduação, deve-se adquirir consciência das dimensões espirituais e, em seguida, apoiar-se em aprendizado compassivo com os pacientes através de processo reflexivo. Apesar de grande parte dos estudantes acreditarem na importância do seu envolvimento nas questões espirituais, é comum referirem não ser preparados e não sentir segurança para tal abordagem. Nesse contexto, a vivência na prática de cuidados paliativos emerge como potencial modificador do ainda vigente paradigma biomédico da saúde. Objetivo: avaliar os entendimentos sobre espiritualidade e religiosidade em estudantes de medicina antes e depois de estágio em serviço de cuidados paliativos de um hospital de referência do nordeste brasileiro. Métodos: estudo transversal e descritivo com componente de intervenção pedagógica (estágio curricular dos estudantes de medicina em serviço de cuidados paliativos) que avaliou as concepções religiososas e espirituais, no início e término do rodízio. A coleta de dados ocorreu na prática hospitalar do Instituto de Medicina Integral Prof Fernando Figueira – IMIP entre o período de junho de 2015 à agosto de 2016. Em dois momentos distintos (primeiro e último no rodízio de cuidados paliativos), foi aplicado instrumento com perguntas relacionadas as concepções dos estudantes de medicina sobre religiosidade e espiritualidade e aplicação da Escala Duke para identificar as dimensões da religiosidade. Os dados foram digitados no Excel com dupla entrada e validados no Epi Info 3.5.2. A análise foi realizada no Stata 12.1. As variáveis categóricas foram apresentadas em números absolutos e relativos. A comparação do antes e depois dos dados categóricos foi realizada através do Teste Marginal homogene (Stuart-Maxwell), considerando para fins estatísticos valor p < 5%. O presente estudo foi aprovado pelo CEP/IMIP, CAEE: 43892115.6.00005201. Os estudantes foram comparados quanto as caraterísticas de formação universitária em espiritualidade e religiosidade, características da prática clínica em espiritualidade, características de religiosidade (segundo escala de Duke), quanto a características das concepçõesdetranscendênciaeimortalidadesobrecontribuiçõesqueoestágiogeroupara a formação. Resultados: Foram avaliados 123 estudantes de medicina. Não houve exclusão, e todos os estudantes foram avaliados no início e no final do rodízio no serviço de cuidados paliativos. Houve predomínio do sexo feminino (54,5%), idade superior ou igual a 25 anos (50,4%) e etnia branca (64,2%). A maioria dos estudantes encontrava- se na classe social B2 (44,7%) e a minoria na classe A (2,4%). Os estudantes foram comparados quanto à caraterísticas de formação universitária em espiritualidade e religiosidade, características da prática clínica em espiritualidade, características de religiosidade (segundo escala de Duke), quanto a características das concepções de transcendência e imortalidade sobre contribuições que o estágio gerou para a formação. Algumas variáveis levantadas demonstraram significância estatística (p< 0,0001), como as variáveis que refletem participação em capacitação sobre o tema, presença do temana grade curricular, opinião sobre a forma de abordagem curricular do tema, influência da espiritualidade na saúde e segurança para uma abordagem espiritual. Houve uma prevalência de 53% em autodenominação como católico apostólico romano. A escala de religiosidade de Duke referiu manutenção das características religiosas, assim como as concepções de transcendência e imortalidade, antes e após o rodízio em cuidados paliativos. Houve um predomínio na indicação de uma disciplina obrigatória de espiritualidade. Conclusão: Este estudo reforça que, respeitando-se as características religiosas individuais de cada estudante, existe oportunidade para desenvolver atitudes em prol do acolhimento das angústias espirituais dos pacientes, salientando que a vivência em cuidados paliativos gerou capacitação os indivíduos envolvidos para atender estes anseios. Sugere-se, portanto, a continuidade de estudos com este tema e sua interface com componentes qualitativos que possam reforçar a relevância do preparo no acolhimento espiritual para pacientes em cuidados paliativos.