Os sentidos atribuídos por profissionais de saúde acerca da coordenação entre níveis assistenciais: o olhar sob as lentes gadamerianas

Abstract

Introdução - A coordenação entre níveis assistenciais é apontada pela Organização Mundial de Saúde desde 2007 como um dos caminhos para o enfrentamento à fragmentação das redes de serviços de saúde e a garantia do princípio da integralidade, diminuindo barreiras para o acesso do usuário ao sistema e aumentando a qualidade do cuidado. Todavia a literatura que trata da temática aponta inúmeros entraves para que a colaboração e responsabilidade compartilhada entre a atenção básica (AB) e a atenção especializada (AE) ocorram satisfatoriamente. Objetivos - Compreender os sentidos atribuídos por profissionais das redes de atenção à saúde sobre a coordenação entre os níveis assistenciais de cuidado aos pacientes no município de Recife, sob a ótica da hermenêutica filosófica de Gadamer. Método – Pesquisa qualitativa que utilizou dados provenientes da Pesquisa Equity – LA II, estudo multicêntrico em desenvolvimento desde 2014 em seis países da América Latina, inclusive o Brasil, para avaliar o efeito de diversas estratégias para melhorar a coordenação e a qualidade da atenção entre níveis nas redes de saúde. Foram realizadas novas escutas e leitura das transcrições de onze entrevistas semi-estruturadas aplicadas aos médicos e enfermeiras de dois níveis de atenção, possibilitando o surgimento de categorias emergentes para análise do conteúdo das entrevistas. Os referenciais teóricos da pesquisa mencionada foram articulados com a hermenêutica filosófica de Gadamer para interpretar que sentido os atores atribuíam à coordenação entre níveis assistenciais. Resultados - As narrativas dos profissionais de saúde apontaram que a maioria conhecia as atribuições da coordenação em saúde, porém não as identificava como sendo executada na rede. O médico da AB não foi reconhecido como responsável clínico pela maioria nos dois níveis e que não tinha conhecimento de seu papel na visão do médico da AE, por sua vez, o médico da AB tinha queixas a este respeito. Foram evidenciadas falhas no uso e preenchimento dos mecanismos de referência e contrarreferência e inexistência de outros, como reuniões clínicas. Emergiram diversos outros entraves relacionados às falhas organizacionais e do sistema de saúde. Sugestões de melhoria versaram sobre a elevação do número de equipamentos e profissionais, maior adequação do sistema de regulação, aumento na oferta de serviços (exames, consultas) aos usuários e maior comunicação entre níveis assistenciais. Discussão - A indisponibilidade para o “jogo da conversação” e a fusionalidade expressa pela linguagem de todos os profissionais evidenciaram ausência de reconhecimento pelo médico da AE da autoridade (em seu caráter autoritativo) do médico da AB, sentimento de menos valia por este último e predominância da postura tecnicista e da “especialização” na práxis dos profissionais que mostraram seu desejo de domínio da doença pela “arte de curar”(GADAMER, 2006). Considerações Finais – Ao término desse trabalho o horizonte da compreensão é o de que a coordenação entre níveis sob o olhar dos profissionais de saúde se encontra na condição do aí-a-ser-compreendido, fazendo-se imprescindível que esses atores se lancem a jogar o “jogo da compreensão” na afirmação gadamederiana, para que pelo diálogo se construam práticas em saúde que representem ou se configurem como “cuidado integral”. A pesquisa possibilitou “novos olhares” para instrumentalizar intervenções que oportunizem a coordenação entre níveis como via para a comunicação/articulação entre AB e AE