Prevalência e características associadas à infecção pelo vírus dengue em parturientes e seus conceptos em uma maternidade do recife: um estudo de corte seccional

Abstract

Introdução: A dengue afeta anualmente cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo e é atualmente considerada uma das mais graves ameaças à saúde em países tropicais e subtropicais. Nas Américas, onde há cocirculação dos quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV- 1-4), cerca de 70% dos casos foram notificados no Brasil. A região Nordeste do Brasil tem sido responsável por cerca de um terço dos casos notificados no país. Inquéritos sorológicos populacionais conduzidos nesta região têm demonstrado a alta prevalência de anticorpos anti-dengue na população. No entanto, a taxa de infecção por dengue em mulheres grávidas e seus filhos ainda é desconhecida. Objetivo: Determinar a prevalência de infecção pelo vírus dengue e investigar sua associação com as características maternas e neonatais, em parturientes e seus conceptos assistidas em uma maternidade do Recife. Método: Um total de 417 parturientes foram recrutadas na maternidade do hospital IMIP, Recife, Nordeste do Brasil no período de março de 2011 a maio de 2012. Duas destas mulheres foram transferidas para outro hospital, sendo incluídas no estudo 415 mulheres com gestações de baixo risco e que concordaram com o seguimento de seus conceptos no estudo de coorte. A infecção por dengue foi avaliada através do método DENV RT-PCR e dos anticorpos anti-dengue (IgM e IgG) pelo método ELISA. Foram calculadas as prevalência de anticorpos IgG das parturientes e seus conceptos. A concordância entre os pares de amostras maternas e do cordão foi verificada pelo índice Kappa. O cálculo do Odds Ratio (OR) e seus respectivos intervalos de confiança a 95%, admitindo-se o valor de p < 0,05 foram utilizados para testar a associação entre infecção recente (IgM ou RT- PCR) e características sócio-demográficas e clínicas maternas e neonatais. Resultados: As prevalências de anticorpos IgG nas amostras de sangue materno e do cordão foram de 95,1% (IC 95%: 92,6% - 96,9%) e 95,8% (IC 95%: 93,4% - 97,5%) , respectivamente. A concordância entre os pares das amostras maternas e do cordão foi de 0,93 (Índice Kappa). A prevalência de infecção recente foi de 10,6% (IC 95%: 7,9% -14,2%) entre as parturientes. A febre durante a gravidez esteve associada à infecção recente da dengue. Das 16 parturientes que relataram episódio febril nos últimos sete dias anteriores ao parto, duas amostras de sangue materno foram positivas para DENV-2 e DENV-4. Nenhuma amostra do cordão foi RT-PCR positivo. Conclusões: Observou-se alta frequência de infecção prévia entre parturientes com transferência de anticorpos viii antidengue (IgG) para os seus respectivos recém-nascidos. A prevalência de parturientes com infecção recente acompanhou a sazonalidade da dengue na região. Estes resultados evidenciaram a necessidade de vigilância para dengue em gestantes e seus respectivos recém-nascidos, especialmente durante os meses de alta incidência de transmissão da dengue no Brasil.