Frequência e fatores associados a níveis pressóricos elevados em crianças com baixo peso ao nascer durante acompanhamento ambulatorial em uma unidade de referência do nordeste do brasil

Abstract

Níveis pressóricos elevados (NPE) são objeto de estudo e preocupação em todo mundo, devido a sua associação com graves morbidades como doença cardiovascular e doença renal crônica terminal. Evidências sugerem que baixo peso ao nascer (BPN) é determinante importante para NPE. Progressos na assistência neonatal contribuem para maior sobrevida de crianças com riscos para NPE, especialmente as BPN, porém conseqüências e demandas desta associação ainda são desconhecidas. Objetivamos determinar a freqüência de NPE em crianças com BPN durante acompanhamento ambulatorial em unidade de referência, analisando características antropométricas atuais e do período neonatal. Para tanto, realizamos um estudo transversal analítico com amostra de crianças assistidas entre agosto/2011 a julho/2012, no ambulatório Egresso Canguru do Instituto Medicina Integral Prof. Fernando Figueira – IMIP, (Recife/PE) que acompanha nascidos neste serviço com peso inferior a 2500 gramas. Obtiveram-se dados dos prontuários e aferiu-se pressão arterial conforme VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial e IV Consenso Internacional para Diagnóstico, Avaliação e Tratamento da Hipertensão em Crianças e Adolescentes, usando aparelho automático oscilométrico. Após obtenção da freqüência de níveis pressóricos elevados e do índice de aferição prévia de pressão arterial, calculou-se a razão de prevalência entre níveis pressóricos elevados e as variáveis biológicas, neonatais e antropométricas com diferenças entre os grupos com nível de significância de 95%. As variáveis com p≤0,10 foram incluídas para a análise multivariada no Stata 10.0. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos sob registro 2290-11. As 286 crianças avaliadas tinham idade inferior a sete anos e 67 (23,4%) apresentaram NPE. Aferição prévia de pressão arterial estava notificada em 7% dos casos. Observou-se tendência ascendente na freqüência de NPE de acordo com maior idade cronológica. As médias antropométricas de peso, estatura e índice de massa corpórea foram mais elevadas em crianças com NPE. Portadores de NPE tiveram menores médias de peso ao nascer e menor idade gestacional (p<0,01). Na análise multivariada, crianças com peso ao nascer menor que 1500 g (OR=2,94; IC95%=1,62 a 5,36) e peso atual normal ou elevado (OR=2,72; IC95% =1,39 a 5,31) tiveram maior risco de apresentar NPE. Concluímos que houve alta freqüência de NPE em crianças com baixo peso ao nascer, porém, mesmo nesta população de risco, a aferição de pressão arterial não era realizada rotineiramente. As associações encontradas demonstram que a relação entre peso ao nascer e pressão arterial é complexa, pois tanto medidas ponderais pré quanto pós natais parecem atuar como determinantes significativos de NPE nesta população