Mieloma múltiplo: análise do perfil clínico, epidemiológico e laboratorial dos óbitos em hospital de referência

Abstract

Introdução: O Mieloma Múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica caracterizada pela proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea, com possível secreção de proteína monoclonal e disfunção orgânica. Apesar dos avanços terapêuticos, trata-se de uma doença incurável com elevada morbimortalidade. No Brasil os dados epidemiológicos são escassos, o que motivou o presente estudo em hospital público de referência. Objetivo: Definir o perfil clínico, epidemiológico e laboratorial dos pacientes com mieloma múltiplo que foram a óbito entre janeiro de 2021 e dezembro de 2023, acompanhados no Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), hospital de referência no Sistema Único de Saúde (SUS). Métodos: Estudo transversal, retrospectivo, a partir de dados secundários de 20 prontuários de pacientes com MM que foram a óbito entre janeiro de 2021 e dezembro de 2023. Dados clínicos, laboratoriais, terapêuticos e relacionados ao desfecho foram extraídos e analisados. Resultados: A média de idade ao diagnóstico foi de 59,4 anos e a maioria dos pacientes era do sexo feminino (55%). O tempo médio entre início dos sintomas e o diagnóstico foi de 10,1 meses. A forma IgG foi predominante (70%), com cadeia leve kappa em 55%. A maioria apresentava lesões ósseas (90%) e anemia (Hb média 9,0 g/dL). A classificação do International Staging System (ISS) III foi predominante (35%). O número médio de linhas quimioterápicas foi de 2,2, sendo 40% submetidos a transplante autólogo. A principal causa de morte foi choque séptico (70%) e o local mais frequente de óbito foi a unidade de terapia intensiva (75%). Apenas 5% foram encaminhados previamente a cuidados paliativos ambulatoriais. Conclusão: Apesar dos recursos terapêuticos disponíveis no SUS, o curso clínico dos pacientes com MM é marcado por diagnóstico tardio, elevada carga de sintomas e complicações infecciosas graves. Os dados apontam para uma fragilidade na articulação precoce dos cuidados paliativos e reforçam a necessidade de melhorias no acesso ao diagnóstico, tratamento especializado e abordagens multidisciplinares.